♪ No roteiro de AmarElo – É tudo pra ontem, show de 2019 que gerou documentário em 2020 e álbum ao vivo em 2021, Emicida celebrou o próprio triunfo sem deixar de evidenciar a nobre linhagem negra da música brasileira que, a partir dos anos 1980, desembocou no rap.

Por isso mesmo, o discurso de São Pixinguinha – single gravado pelo artista brasileiro para o projeto alemão Colors + Studios e lançado na quinta-feira, 2 de dezembro, Dia Nacional do Samba – soa coerente com a ideologia do rapper paulistano.

Na cadência de samba suave, Emicida celebra nos versos de São Pixinguinha a divindade de Alfredo da Rocha Vianna Filho (23 de abril de 1897 – 17 de fevereiro de 1973), compositor, saxofonista, flautista e maestro carioca imortalizado como Pixinguinha por conta de obra que é uma das bases sólidas sobre a qual está assentada a música popular do Brasil.

Na letra do samba, Emicida se imagina no céu, tocando para plateia de seres iluminados que reverenciam Pixinguinha. No meio dos versos, o rapper roga a Pixinguinha que receba bem o exponencial maestro baiano Letieres Leite (1959 – 2021), morto em outubro.

São Pixinguinha é composição inédita de autoria do próprio Emicida em parceria com Thiago dos Reis Pereira e Damien Alian Faulconnier – a quem coube orquestrar a produção musical da gravação editada em single e clipe.

♪ Eis a letra de São Pixinguinha, música em que Emicida se proclama devoto do “Alfredinho lá do Catumbi” :

São Pixinguinha

(Emicida, Thiago dos Reis Pereira e Damien Alian Faulconnier)

“Se um dia fosse chamado pra tocar no céu eu ia

Ia lisonjeado, cê pode apostar que eu ia,

Leve como uma pluma, melhor, uma melodia

Na paz dos ancestrais lá das fitinhas da Bahia

Brilhando como a prata dessa lua que me guia

Sambando pelas nuvens como a flauta e tantas guias

Polvilhado de estrelas, eu sou o escuro que alumia,

Que a noite se não é mãe, na certa é vó, ou então é tia

Eu penso na plateia com Odoyá e Maria

Jesus, Oxalá, Buda, audiência reluzia

Alá, Nanã, Omama, Ganesha, Santa Luzia,

Até o do subsolo se espreme e do fundo espia

Enquanto Deus diz:

Chegou São Pixinguinha

De Odeon, de Yaô, de Batuque na cozinha

De Carinhoso

Olha lá ele com a flautinha

De Rosa, de Nininha

Carne Assada, ladainha

Dos Batutas, Sapequinha

De Pombinha" e Benguelê

É ele, pode crer

Todo mundo adivinha

Chegou São Pixinguinha

Amém

Se um dia fosse chamado pra tocar no céu eu ia

Cochichar no bocal e o vento traduziria

Em algo monumental, que nossa alma acaricia

pra explodir num louvor, que toda palma carecia

elegância e amor, ó o topete das cotovia

Os santos se amontoam, que o homi é uma sinfonia

Orfeu emocionado - isso sim que é poesia

Os anjos pendurados dizendo: essa arrepia

Eu vendo uma plateia com Odoyá e Maria

Jesus, Oxalá, Buda, audiência reluzia

Alá, Nanã, Omama, Ganesha, Santa Luzia

Até o do subsolo chorando se redimia

Enquanto Deus diz:

Chegou São Pixinguinha

De Odeon, de Yaô, de Batuque na cozinha

De Carinhoso

Olha lá ele com a flautinha

De Rosa, de Nininha

Carne Assada, ladainha

Dos Batutas, Sapequinha

De Pombinha" e Benguelê

É ele, pode crer

Todo mundo adivinha

Chegou São Pixinguinha

Amém

É o pã dessas florestas tropicais

Onde Chopins monumentais

Venceram a insônia

Que impede o povo de dormir em paz

Sabe onde o Brasil jamais foi colônia?

Na flauta do Alfredinho lá do Catumbi”


Fonte: G1