O jornalista, escritor e pesquisador musical Ayrton Mugnaini Jr. tornou pública uma rara gravação que tinha em mãos de Elza Soares. O também cantor, compositor e músico, tinha um cassete da cantora, morta aos 91 anos, no último dia 20, cantando "Miss Celie's Blues", a canção composta por Quincy Jones, Rod Temperton e Lionel Ritchie para o filme "A Cor Púrpura", de Steven Spielberg, de 1985.

A origem do registro é curiosa e aponta para um caminho que Elza pensou em tomar no início dos anos 90, mas que não foi para frente: uma possível carreira internacional com ela gravando também em inglês.

Mugnaini (abaixo) foi convidado para ser professor da estrela e conta que a ideia não era a de ensinar gramática e conversação para a artista, mas sim de pronúncia e entonação. Pouco depois, ele faria um trabalho semelhante com Tom Zé.


A gravação foi feita em 19 de junho de 1992, durante uma das aulas. Nesta época, Soares estava um tanto afastada da mídia e dos estúdios de gravação - e, por isso mesmo, pensando em novas opções para a carreira. Uma história mostra que o período não era dos melhores para a artista.

Mugnaini diz que Elza era boa aluna, "sem nenhum estrelismo, sempre entusiasmada e gentil". Mas teve um dia em que ela se mostrou incomodada. Foi em 20 de janeiro de 1993, quando uma aula precisou ser interrompida para que ela atendesse um jornalista que queria falar com ela por ocasião dos dez anos da morte de seu ex-marido. Ela então desabafou: "só lembram de mim por causa do Garrincha", disse em referência ao jogador com quem ela foi casada entre 1966 e 1982.


As aulas se estenderam até o começo de 1993 e não renderam mais frutos, já que o português seguiria como a sua língua primordial na hora de cantar. Seu próximo disco ainda demoraria a sair, "Trajetória‎", lançado em 1997. Nesse meio tempo, ela seguiu a vida fazendo shows e tentando novos formatos, como o disco que traz ela e o violonista João de Aquino, também gravado nos anos 90 e que só recentemente chegou ao público.

Ayrton também não voltou a encontrá-la. "Eu quis ir vê-la em shows que fez em Sampa mas as agendas não coincidiram", diz.

Ouça a gravação, que tem o próprio Ayrton no violão:



Faixa Bônus:

Essa não era a única raridade que Mugnanini tinha de Elza Soares em sua gigantesca coleção. Ele também disponibilizou um raríssimo compacto de 1962 com a artista cantando um jingle em favor do presidencialismo, e contra o parlamentarismo, por ocasião do plebiscito realizado em 6 de janeiro do ano seguinte. Ouça:


Fonte Vagalume