Outros dois guardas-civis metropolitanos foram presos na terça (6) na capital de São Paulo. Grupo movimentou mais de R$ 3 milhões em dinheiro de propina cobrada de comerciantes em troca de segurança em região conhecida pela venda e consumo de drogas no Centro.



Ação em imóveis usados pelo crime organizado na Cracolândia — Foto: Giba Bergamim/TV Globo

Ação em imóveis usados pelo crime organizado na Cracolândia — Foto: Giba Bergamim/TV Globo

A polícia de São Paulo procura dois ex-guardas-civis metropolitanos suspeitos de integrarem uma milícia armada que extorquia dinheiro de comerciantes em troca de segurança na Cracolândia, região conhecida pela venda e pelo consumo de drogas no Centro de São Paulo.

Rubens Alexandre Bezerra e Elisson de Assis são investigados por suspeita de serem milicianos juntamente com outros agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM), da Polícia Militar (PM) e da Polícia Civil. Os dois são considerados foragidos da Justiça, que decretou as prisões preventivas deles.

Rubens e Elisson chegaram a integrar a GCM, mas foram expulsos da corporação, respectivamente em 2019 e em janeiro deste ano. Os motivos dos desligamentos não foram divulgados pelas autoridades. Até a última atualização desta reportagem eles não tinham sido localizados e presos.

Outros dois agentes da ativa da Guarda Civil Metropolitana foram detidos nesta terça-feira (6) durante a Operação Salus et DignitasAntonio Carlos Amorim Oliveira e Renata Oliva de Freitas Scorsafava.

De acordo com o Ministério Público (MP), os quatro investigados acima integraram a milícia que chegou a movimentar nos últimos anos pelo menos R$ 3 milhões em dinheiro extorquido dos donos de comércios na Cracolândia.

Além dos milicianos que atuavam na Cracolândia, a operação mirou a atuação de traficantes de drogas na região: dois deles foram presos: Leonardo Moja, o "Léo do Moinho", e Janaína da Conceição Cerqueira Xavier. Os dois são suspeitos de envolvimento na venda de armas para a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

Valdecy Messias de Souza, funcionário de uma empresa de comunicação, foi detido na operação suspeito de vender aos criminosos aparelho que dava acesso à frequência de rádio das polícias. O equipamento ficava instalado na Favela do Moinho, próxima à Cracolândia.

A reportagem tenta contato com as defesas dos investigados para comentar o assunto.

A operação também prendeu cinco pessoas durante os trabalhos na Cracolândia, mas por suspeita de terem cometidos outros crimes. Policiais também cumpriram mandados de busca e apreensão em imóveis da região. Foram recolhidos objetos e equipamentos eletrônicos.

Como funcionava o esquema

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MP e polícia fazem operação na Cracolândia para prender GCMs acusados de participar de milícia

Em um ano de investigação, promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP e policiais identificaram que a quadrilha se dividia em cinco grupos de atuação na Cracolândia:

  • Ferros-velhos: empresários são suspeitos de explorar mão de obra de dependentes químicos. Os usuários furtavam fios de energia da rede pública, deixando semáforos e postes sem luz, e trocavam o cobre presente neles por drogas. Nesses locais foram encontradas crianças e adolescentes participando desse comércio irregular.
  • Milícia de GCMs: GCMs, policiais militares e policiais civis são suspeitos de se articularem numa milícia para extorquir dinheiro de comerciantes em troca de proteção. De acordo com a investigação, o grupo chegou a conseguir cerca de R$ 6 milhões em propina no período de quase um ano.
  • Receptação de celulares: comerciantes libaneses são suspeitos de montarem um esquema de receptação de celulares roubados e furtados e depois revender as peças. Os celulares eram levados a eles por grupos criminosos como as 'gangues da bicicleta' (que usam as bikes para fugir depois de roubar e furtar telefones de pedestres).
  • Hotéis e hospedarias: rede de hotéis e hospedarias mantida pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) que servem para armazenar drogas e abrigam até "tribunais do crime" (julgamentos internos da facção criminosa feitos por seus membros). Dentro desses locais, segundo a investigação, ocorre a exploração sexual de mulheres que são obrigadas a se prostituir para comprar drogas. Há denúncias da presença de menores de 18 anos de idade sendo exploradas. Um dos imóveis é conhecido como 'prédio do sexo', onde ocorre a exploração da prostituição. Não é crime pessoas maiores de idade se prostituírem, mas explorar a prostituição é. Outros prédios já eram conhecidos da polícia por abrigarem celulares roubados e furtados. Os imóveis chegaram a ser chamados de 'ninhos de celulares'.
  • Favela do Moinho: a comunidade erguida ao lado da linha da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) se tornou uma base do PCC. Dali saem as ordens para a tráfico de drogas na Cracolândia. A favela também serve como depósito de armas e drogas. Segundo a investigação, criminosos usavam um detector de radiofrequência para ouvir as conversas operacionais da PM e, desse modo, se anteciparem às operações. Para terem controle da comunidade realizavam "tribunais do crime", nos quais membros da facção e até moradores que descumprissem regras internas poderiam ser punidos.

O que dizem governador e prefeito

Agentes das forças de segurança se reúnem para tratar de operação contra milícia de GCMs e traficantes do PCC — Foto: Divulgação

Agentes das forças de segurança se reúnem para tratar de operação contra milícia de GCMs e traficantes do PCC — Foto: Divulgação

Em postagem nas redes sociais, o governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que acompanhou a ação de dentro de um dos helicópteros da PM, escreveu que o objetivo da operação é "devolver o centro às pessoas".

Tarcísio não comentou sobre o envolvimento de servidores públicos que atuam como milicianos, têm relação com crime organizado e são os principais alvos da operação.

O prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), comentou a operação durante entrevista coletiva à imprensa:

"A Prefeitura desconhece milícia na cidade de São Paulo e tem regime rígido com a GCM. Temos 7.500 homens e mulheres para defender o cidadão da cidade. Nós temos dois GCMs [presos na operação] que foram expulsos da Guarda Civil, um deles, a Prefeitura pediu a prisão ao MP, tal o rigo da cooperação. Não vai ser, um dois, quatro, cinco que vão manchar 7.500 GCMs", afirmou.

Ação das forças de segurança para combater milícia de GCMs e presença de traficantes na Cracolândia — Foto: Giba Bergamim/TV Globo

Ação das forças de segurança para combater milícia de GCMs e presença de traficantes na Cracolândia — Foto: Giba Bergamim/TV Globo










Fonte: g1