Companheiro de Wesley da Silva Ferreira disse que pegou celular do suspeito após briga entre os dois. À polícia, suspeito admitiu ter abusado de cinco pacientes, alguns totalmente inconscientes.
O companheiro do técnico de enfermagem Wesley da Silva Ferreira, suspeito de abusar e gravar vídeos de pacientes na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), disse em depoimentos que viu, pelo menos, quatro vídeos de abuso às vítimas.
"Eu vi ele passando a mão no paciente. Tinha muito vídeo dele muito, muito, muito", falou.
O companheiro relatou à Polícia Civil (PC-PR), no dia 29 de outubro, que desconfiava de traições e que, após uma briga, pegou o celular de Wesley para tentar descobrir.
Após isso, ele contou que trancou o técnico de enfermagem dentro do apartamento em que moravam e saiu correndo com o celular. Ele também disse à polícia que os vídeos eram recentes.
"Fui sem rumo para ver o que estava acontecendo. Achei um posto de gasolina, aí fiquei escondidinho lá e comecei a ver", lembra.
O companheiro disse também no depoimento que todas as vítimas eram do sexo masculino. Além disso, falou que a maioria das vítimas estavam desacordadas.
O companheiro prestou depoimento no mesmo dia em que Wesley foi preso.
A RPC teve acesso ao depoimento de Wesley, no qual ele confirmou que as vítimas estavam sedadas durante os abusos e disse que filmava os atos porque "tinha vontade". O técnico tem o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e disse estar em tratamento desde 2019 e saber que a infecção é transmissível. Além disso, Wesley assumiu o risco ao cometer os abusos e confessou que eram cometidos há pelo menos um ano.
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Investigações
A Polícia Civil disse que avançou na investigação de imagens registradas pelo técnico de enfermagem e acredita na possibilidade de mais vítimas em outros hospitais.
No dia da prisão, Wesley confessou ter abusado de cinco homens. Em depoimento, ele afirmou que alguns deles estavam totalmente inconscientes devido à sedação.
Wesley também garantiu que não cometeu abusos em outros hospitais e negou a existência de mais vítimas. Ele disse que abusou dos pacientes somente na sala de estabilização, ou sala vermelha, conforme depoimento dele, ao qual a RPC teve acesso.
A sala de estabilização (SE) é um local de atendimento temporário e especializado para pacientes graves ou críticos, que se encontram em risco de perder a vida ou a função de algum órgão ou sistema do corpo.
Depoimento do técnico de enfermagem à polícia — Foto: RPC
No entanto, a delegada que analisa o caso, Aline Manzatto, está cruzando informações de plantões do técnico com as datas de registro de vídeos e fotos feitos por ele durante os abusos. A delegada acredita que alguns detalhes não são coerentes com o discurso do suspeito.
"Ali demonstra que, pelo menos, ele estaria em salas diferentes num estabelecimento hospitalar. Então, ou ele não fazia somente nessa sala de estabilização, conforme ele falou. Ou ele mentiu e nós temos vítimas de outros locais também em vídeos e fotos. Pela forma como ele atuava, eu acredito todos pensam que não foi ali que ele iniciou essa prática", disse a delegada.
A polícia também descobriu que o homem cursava uma faculdade de enfermagem, o que pode ter levado o suspeito a realizar estágios em diversos ambientes. Uma equipe de investigadores foi enviada aos lugares em que Wesley trabalhou para tentar reconhecer os cenários gravados por ele.
O prazo de conclusão do inquérito é de 10 dias e tem vencimento na próxima semana. A delegada pretende concluir as investigações e encaminhar denúncia ao Ministério Público do Paraná (MP-PR).
O técnico de enfermagem deve responder por estupro de vulneráveis, furto, adulteração de medicamentos e perigo de contágio por moléstia grave. Os crimes podem render até 70 anos de prisão.
Em nota, o MP PR informou que o Núcleo de Apoio à Vítima de Estupro (Naves) acompanha o caso, já requisitou diligências investigativas e aguarda a conclusão do inquérito policial para análise.
O que dizem as instituições em que o suspeito trabalhou
A secretária municipal de saúde, Beatriz Battistella Nadas, ressaltou que demitiu o técnico de enfermagem e anunciou que irá adotar critérios mais rigorosos para contratação de profissionais. Além disso, disse que pretende prestar o atendimento necessário às vítimas.
"Aquele que, por ventura, precisam saber se foram vítimas ou não podem procurar a nossa secretaria pelo canal da ouvidoria, 156. E nós adotaremos todo o acompanhamento, monitoramento, tratamento de todos aqueles que foram vítimas desses atos indecorosos", reforçou.
O Hospital Pequeno Príncipe (HPP), maior instituição exclusivamente pediátrica da América Latina e local em que o técnico também trabalhava, enviou nota à RPC e disse que nunca recebeu reclamações sobre a conduta do técnico.
"Ele não tem registro de queixas em relação a sua conduta na instituição, seja reclamação no Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) ou advertência do Setor de Recursos Humanos. O Pequeno Príncipe ainda não foi acionado formalmente, mas está levantando todas as informações para colaborar com as investigações e tomar as medidas necessárias", disse.
No Hospital do Rocio, Wesley trabalhou por alguns meses em 2020 e também não teve registros de queixas de pacientes, conforme nota.
O Hospital Santa Cruz, local no qual o suspeito também trabalhou em 2020, foi procurado pela RPC e, até a última atualização desta reportagem, não retornou o contato.
O Conselho Regional de Enfermagem do Paraná (Coren) manifestou repúdio a qualquer forma de abuso cometido por profissionais no exercício da profissão e disse que já determinou apuração do caso pela Câmara de Ética da Entidade.
Fonte: g1